terça-feira, 28 de julho de 2009

De pedras a patos



















Ao chegar cedo pela manhã na redação, estão somente as duas moças da faxina, o repórter de polícia e Fernando, o motorista, que atende ao telefonema da chefe de reportagem, dando as orientações do dia.“Ai negão! É pra tu pegar o carro e fazer a ronda com o Colombo, que às 10h você tem pauta para o Plural (caderno de cultura).”

Sigo minha rotina. Vou ao restaurante e me conformo com dois pãezinhos e um pingado, o suficiente para aguentar a parte da manhã e o conhecido repórter policial Colombo - “Porra, bicho, assim não dá. Temos que sair logo! São 8h20min, quase 9h”.

Em meio a reclamações e piadas, vamos direto para central de polícia de São José. Não há ocorrências graves, somente a apreensão de equipamento de som automotivo. Faço alguns registros e voltamos para o Centro, onde o delegado Enio dará uma coletiva na 1ª DP da capital. O teor da coletiva seria o detalhamento da prisão de uma quadrilha acusada de cometer homicídios em Florianópolis. Antes de subirmos para falar com o delegado alguns colegas nos avisaram sobre dois jovens detidos que estavam prestando depoimento na delegacia. “Ó, são menores”, ecoou uma voz avisando sobre os dois. “Abaixa a cabeça aí e coloca o capuz”, ordenou outra voz em seguida. Neste caso não há o que inventar. Fotografo os dois rapazes de cabeça baixa para não identificá-los e vamos para coletiva. Já estão todos presentes, repórteres de TV, rádio e jornal. Procuro variar nos ângulo e na composição, para que a imagem não fique tão “burocrática”. Sempre aproveito a presença dos colegas cinematográficos, ora com sua presença o enquadrando em primeiro plano, ra pela luz direta fornecida pelas câmeras.

Voltando à redação, Colombo é informado que violaram o túmulo de uma das vítimas envolvidas no acidente de carro há dois dias. Este caso teve grande repercussão pelo fato de não estarem claras as circunstâncias do acidente. Vamos ao cemitério e falamos com o coveiro. O cara é um tremendo “figura” ao chegar ao local vai logo abrindo a cova. Aproveito a oportunidade para fazer a foto.

Antes de baixar o material do dia na redação tenho a tal foto do Plural para fazer. Um escritor renomado de 85 anos sem paciência alguma em ser fotografado. O componho no ambiente da casa aproveitando novamente a luz contínua, agora de uma luminária ao lado do personagem. A repórter que já está no local sugere outra foto, agora sua biblioteca particular.

Pouco além do meio-dia já estamos no jornal. Letícia me convida para almoçar, mas logo dispenso o convite - “putz Lê! Vou lá em cima primeiro, alguém tentou me ligar”, respondi. Ao me ver, a chefe de reportagem repassa mais duas pautas. Pergunto sobre a ligação. “Ah, não era nada, já resolvemos”. Saio “puto da vida” por ter voltado à redação e vou cumprir as tais pautas. Uma sobre a barreira da SC-401 e a outra é para eu refazer as fotos de um colega sobre os animais do horto florestal.

Vou primeiro à rodovia estadual onde já há um pequeno engarrafamento devido ao estreitamento de pista. Pego a 500 mm e componho os carros com o desvio, a super tele tem o poder de achatar os planos, fazendo com que o engarrafamento fique próximo da barreira. É melhor levar um “esporro” por fotografar em local proibido do que pedir permissão e não fazer a foto. Este ditado é sempre bem pertinente. Desta forma subi ao local onde as máquinas estavam trabalhando e fiz mais algumas.

Vamos para última pauta, horto florestal. Novamente fotografo com a “quinhentinha”, só que dessa vez alguns animais com: patos, marrecos tartarugas e coelhos. Há também no parque jacarés, que por “motivos familiares” não saíram da toca. Além dos famosos macaquinhos conhecidos como saguis, que por mais que eu e a Aline (repórter que me acompanhava) oferecêssemos algumas bananas, também não nos deram o ar da graça.


quarta-feira, 22 de julho de 2009

A casa do abandono.








Casario Hercílio Luz

Esta pauta começa muito antes desse dia. Ela surge devido à queda de outra. Há quase um mês, quando eu e o repórter Damião pensávamos em outra pauta que pudéssemos realizar sem muita demora na apuração. Com vista para a Baía Sul trocamos algumas idéias, até que Damião sugere a pauta sobre o museu de armamento histórico de Florianópolis. Antes de entrarmos no carro comento sobre um casarão antigo que há tempos eu observava, seu abandono, e que já faz parte da paisagem de quem passeia pela praça do “banco redondo” ou simplesmente transita pela Avenida Mauro Ramos. A princípio a sugestão não teria muita relevância já que existem vários edifícios históricos nestas mesmas condições, a não ser pelo fato de o prédio ser a antiga residência do ex-governador Hercílio Luz. Damião aprecia a idéia, mas a deixamos para outro momento e seguimos com a pauta do museu.
Manhã nublada de quinta-feira. Sou pautado novamente para sair com Damião. Já fazem quase três semanas que pensamos na tal pauta do casarão. Para minha surpresa, Damião comenta que, no dia anterior, o colunista Cacau Menezes teria dado a nota sobre a antiga casa de Hercílio Luz. Perdemos a exclusividade da matéria. Como diz Damião, “isso é a Lei de Murphy”. Não podemos demorar para começar a apurar a pauta quando a temos na mão, comentou.
A antiga casa do ex-governador é rodeada por novas construções e terrenos abandonados, parece ser engolida pela nova Florianópolis. Seu acesso se dá pela entrada de uma oficina mecânica, e o quintal é cercado por grades com placas indicando corrente elétrica (pura blefe). Ao chegarmos começo a fotografar detalhes do descaso paredes ruindo, vidros quebrados e o mato, que já chega a 1 metro de altura. A condição de luz é ruim, o dia nublado faz com que não haja áreas bem iluminadas. Como não haveria a possibilidade de ter “gente” na foto tento variar o enquadramento, faço certa ginástica para enquadrar o aviso de rede elétrica com as ruínas da casa. A placa dá cor à imagem, traduz a preocupação pelo terreno (privado), e mostra o descaso com a história. Com o trabalho já praticamente finalizado faço os últimos registros, agora optando por uma técnica já utilizada em tempos de “analógica”. Uso a sobre-exposição de duas imagens, uma totalmente subexposta e outra com meio ponto a mais na fotometria. A intenção era dar mais dramaticidade à imagem através de fortes contornos.